São Miguel do Gostoso vai pedir ajuda ao ministro da Justiça para combater violência que assusta a cidade

Por Emanuel Neri

São Miguel do Gostoso não vai desistir de lutar contra a criminalidade.

Já que o governo do Rio Grande do Norte não consegue - ou não quer - resolver o problema da segurança pública em São Miguel do Gostoso, a cidade agora vai bater às portas do governo federal para pedir ajuda.

Um completo dossiê com dados sobre a criminalidade local e os riscos que este problema está trazendo para moradores e turistas será entregue brevemente, em Brasília, ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

Quem vai fazer a entrega do dossiê ao ministro é a deputada federal Fátima Bezerra, do PT potiguar. O dossiê tem o apoio da comissão encarregada de discutir e buscar soluções para a segurança da cidade.

Esta comissão, formada por pessoas da comunidade, pretende se encontrar com a deputada Fátima Bezerra nesta semana ou na próxima. Será entregue à deputada abaixo-assinado que pede solução às autoridades para a criminalidade local.

Nos últimos dias, graças a iniciativas da comunidade local, com o apoio da iniciativa privada, a criminalidade tem diminuído. Mas a situação ainda é de preocupação e alerta – daí a iniciativa de levar o caso ao Ministério da Justiça.

O dossiê faz um completo relato da importância do turismo para São Miguel do Gostoso e aborda as consequências que a criminalidade pode trazer não só para turistas que visitam a cidade como para a população local.

A deputada Fátima Bezerra vai pedir que o Ministério da Justiça adote medidas para enfrentar a criminalidade na cidade.

Fátima Bezerra pedirá ainda soluções para duas outras cidades do Estado, Parelhas e Janduís, que também enfrentam problemas de segurança.

Embora a segurança pública seja responsabilidade dos governos estaduais, o governo federal, via Ministério da Justiça, pode interferir em alguns casos onde aos Estados não adotam medidas para combater a criminalidade.

São subordinados ao Ministério da Justiça a Polícia Federal e a Força de Segurança Nacional. No mês passado, o Ministério da Justiça adotou uma série de medidas para combater a criminalidade em Alagoas.

Veja, abaixo, o dossiê que trata da criminalidade em São Miguel do Gostoso.

Dossiê VIOLÊNCIA

São Miguel do Gostoso enfrentam sérios riscos com onda de violência que atinge a cidade. Turismo está ameaçado

Até o final dos anos 90, São Miguel do Gostoso, 100 km ao Norte de Natal (RN), vivia de pesca e agricultura rudimentares. A cidade era uma das mais pobres do Rio Grande do Norte. A partir do ano 2000, o turismo trouxe desenvolvimento para a cidade, que hoje tem cerca de 50 pousadas e 70 restaurantes e bares. Mais de 500 pessoas são empregadas diretamente pela atividade turística.

Muitos outros benefícios chegaram a São Miguel do Gostoso com o turismo. A pesca e a agricultura do município se desenvolveram para poder atender à demanda turística. Hoje uma cooperativa formada por agricultores familiares abastece com produtos hortifrutigranjeiros toda a rede de pousadas, bares e restaurantes da cidade. O turismo criou benefícios e uma grande cadeia produtiva. Vejam os dados:

- Cinquenta pousadas que empegam, em média, 10 empregados cada uma. Isso equivale a 500 empregos diretos, que beneficiam cerca de duas mil pessoas dependentes destes empregados.

- Há cerca de mil empregos indiretos gerados pela atividade turística, aí incluindo guias turísticos, bugueiros, taxistas e toda a cadeia de serviços que trabalha para o turismo, como pedreiros, eletricistas, encanadores, vigias e jardineiros.

- O turismo de São Miguel do Gostoso atraiu investimentos. Empresários de outros Estados chegam à cidade para investir na atividade turística, implantando pousadas e restaurantes, e trazendo mais dinheiro para o município.

- O comércio de São Miguel do Gostoso também se desenvolveu para atender à demanda turística. Existem pelo menos oito supermercados de porte médio na cidade, além de uma infinidade de mercadinhos e padarias que empregam centenas de pessoas.

- Os sinais de desenvolvimento estão por toda parte. Há pleno emprego na cidade, pois, além do turismo, a construção civil também absorve muita mão-de-obra. A grande maioria dos moradores tem casa própria, eletrodomésticos, eletroeletrônicos e boa parte tem automóveis ou motocicletas.

Apesar do enorme impulso trazido pelo turismo, que também beneficiou outras cidades da região, São Miguel do Gostoso tem enfrentado seríssimos problemas com a criminalidade. Muitos marginais chegaram à cidade atraídos pela presença de turistas e pela facilidade de assaltar estes visitantes em praias e outras áreas públicas. Há vários registros de casos de violência.

Nos últimos tempos, houve também alguns assaltos a pousadas, restaurantes e estabelecimentos comerciais da cidade. Muitos destes assaltos são feitos por criminosos encapuzados e com armas de fogo. Até mesmo a explosão de caixas eletrônicos de bancos já chegou à cidade – há dois meses, o caixa eletrônico do posto de serviços do Banco do Brasil foi explodido.

Estas ocorrências têm sido crescente, sem que haja nenhuma ação do governo estadual, a quem cabe a responsabilidade pela segurança pública. Já foram encaminhados vários pedidos à Secretaria de Segurança e ao comando da Polícia Militar do Rio Grande do Norte. Ocorre que nenhuma medida efetiva foi adotada.

A população de São Miguel do Gostoso tem tomado uma série de medidas para enfrentar a criminalidade. Mas, sem o apoio do governo estadual, estas ocorrências têm aumentado. Na cidade há apenas um pequeno destacamento policial, que nunca consegue apurar os furtos e assaltos sofridos por turistas e população. A cidade não tem delegacia e conta apenas com um posto policial que funciona em precárias condições.

A polícia local diz não ter condições de registrar sequer um simples Boletim de Ocorrência. Quem quiser prestar este tipo de ocorrência tem que se deslocar até a cidade de João Câmara, a mais de 60 km de distância – a polícia de Touros, cidade mais próxima, diz que também não tem condições de abrir Boletins de Ocorrência.

Toda esta situação tem causado prejuízos ao turismo e, consequentemente, à população local. Alguns estabelecimentos turísticos e comerciais já fecharam suas portas em consequência da criminalidade. Tem diminuído, nos últimos meses, o fluxo de turistas para a cidade, gerando séria ameaça de desemprego.

Como o governo estadual não toma nenhuma providência, resta à população de São Miguel do Gostoso, como última esperança, apelar ao governo federal, por intermédio do Ministério da Justiça, para que sejam adotadas alguma medida para que cesse a criminalidade, o turismo local volte a gerar emprego e renda,  e que volte a paz a esta pacata cidade potiguar.