Por Emanuel
Neri
É grande o
número de
artigos curiosos e esclarecedores sobre a eleição municipal encerrada no último domingo.
Prova de que este foi o fato político mais importante ocorrido este ano no
Brasil. Mote destes artigos: quem ganhou e quem perdeu com esta eleição?
No artigo abaixo, o jornalista
Ricardo Kotscho – com passagem pelos principais veículos de comunicação do país
e atualmente no R7 – escreveu artigo em que analisa o comportamento da mídia em
relação à eleição. Veja a análise do Kotscho, abaixo:
Por Ricardo Kotscho
Perderam
para Lula em 2002.
Perderam
para Lula em 2006.
Perderam
para Lula e Dilma em 2010.
Perderam
para Lula e Haddad em 2012.
A
aliança contra Lula e o PT montada pelos barões da mídia reunidos no Instituto
Millenium sofreu no domingo mais uma severa derrota.
Eles
simplesmente não aceitam até hoje que tenham perdido o poder em 2002, quando
assumiu um presidente da República fora do seu controle, que não os consultava
mais sobre a nomeação do ministro da Fazenda, nem os convidava para saraus no
Alvorada.
Pouco
importa que nestes dez anos tenha melhorado a vida da grande maioria dos
brasileiros de todos os níveis sociais, inclusive a dos empresários da mídia,
resgatando milhões de brasileiros da pobreza e da miséria, e dando início a um
processo de distribuição de renda que mudou a cara do País.
Lula
e o PT continuam representando para eles o inimigo a ser abatido. Pensaram que
o grande momento tinha chegado este ano quando o julgamento do mensalão foi
marcado, como eles queriam, para coincidir com o processo eleitoral.
Uma
enxurada de capas de jornais e revistas com quilômetros de textos
criminalizando o PT e latifúndios de espaço sobre o julgamento nos principais
telejornais nos últimos três meses, todas as armas foram colocadas à disposição
da oposição para o cerco final ao ex-presidente, mas a bala de prata deu chabu.
Na
noite de domingo, quando foram anunciados os resultados, a decepção deve ter
sido grande nos salões da confraria do Millenium, como dava para notar na
indisfarçada expressão de derrota dos seus principais porta-vozes, buscando
explicações para o que aconteceu.
Passada
a régua nos números, apesar de todos os ataques da grande aliança formada pela
mídia com os setores mais conservadores da sociedade brasileira, o PT de Lula e
Dilma saiu das urnas maior do que entrou, como o grande vencedor desta eleição.
"PT
— O maior vencedor" é o título do quadro publicado pela Folha ao lado dos
mapas das Eleições em todo o País. Segundo o jornal, o PT "foi o campeão
em dois dos mais importantes critérios. Além de ter sido o mais votado no 1º
turno (17,3 milhões), é o que irá governar para o maior número de
eleitores".
De
fato, com os resultados do segundo turno, o PT irá governar cidades com 37,1
milhões de habitantes, onde vive 20% do eleitorado do País. Com cidades
habitadas por 30,6 milhões, o segundo colocado foi o PMDB, principal partido da
base aliada.
"Em
relação aos resultados das eleições de 2008, o total de eleitores governados
por prefeitos petistas crescerá 29% em 2013, quando os eleitos ontem e no
primeiro turno deverão assumir", contabiliza Ricardo Mendonça no mesmo
jornal.
Do
outro lado, aconteceu exatamente o contrário: "Já os partidos que fazem
oposição ao governo Dilma Rousseff saem da eleição menores do que entraram. Na
comparação com 2008, PSDB, DEM e PPS, os três principais oposicionistas, terão
309 prefeituras a menos. Puxados para baixo principalmente pelo DEM, irão
governar para 10,5 milhões de eleitores a menos".
Curiosa
foi a manchete encontrada pelo jornal "O Globo" para esconder a
vitória do PT: "Partidos ficam sem hegemonia nas capitais". E daí?
Quando, em tempos recentes, algum partido teve hegemonia nas capitais? Só me
lembro da Arena, nos tempos da ditadura militar, que o jornal apoiou e
defendeu, quando não havia eleições diretas.
O
que eles estarão preparando agora para 2014? Sem José Serra, que perdeu de novo
para um candidato do PT que nunca havia disputado uma eleição, o ex-ministro da
Educação Fernando Haddad, eleito com 55,57% dos votos, terão que encontrar
primeiro um novo candidato.
Ao bater de frente pela segunda vez
seguida num "poste do Lula", o tucano preferido da mídia corre agora
o risco de perder também a carteira de motorista.