Desta vez, sem que
ninguém esperasse, um beijo (foto) entre duas mulheres com 85 anos, que têm um
relacionamento há mais de 40, aconteceu logo no primeiro capítulo de uma
novela. Babilônia, a novela das 21h da TV Globo, surpreendeu e provocou a ira
de setores conservadores brasileiros, em especial de parlamentares evangélicos.
E as duas
mulheres gays da novela são protagonizados por duas excepcionais
atrizes que fazem parte da primeiríssima linha do teatro e do cinema brasileiros: Fernanda
Montenegro e Nathalia Timberg. E a novela promete “chocar” muito mais, porque
as duas – Teresa e Estela, seus personagens – pretendem se casar durante a novela.
E tem muito
mais para arrepiar os cabelos dos conservadores. O autor da novela, Gilberto
Braga, promete abordar também aborto, racismo e uso de drogas. O preconceito contra
gays também vai aparecer quando os pais da namorada do rapaz que é criado pelo
casal de lésbicas se levantarem contra o namoro.
E o motivo
da reação dos pais é exatamente o fato de o rapaz ser criado por duas
mulheres que vivem juntas. Tudo isso também passa pela cabeça de muita gente no
Brasil. Não faz muito tempo um rapaz foi espancado e morto, por colegas de
escola, pelo simples fato de ser criado por um casal de gays masculinos.
A TV Globo comete
muitos pecados. É manipuladora de informação, só divulga em seus
telejornais aquilo que é do interesse dos donos da emissora, tenta “fazer a
cabeça” da população contra políticos com os quais sua direção quer ver longe do
poder, como a presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula.
Mas em
questão de comportamento a TV Globo desempenha papel que
se contrapõe ao seu ativismo político. Temas tratados em suas novelas vão, de
alguma forma, sintonizando o brasileiro com tempos mais modernos. Já foram mostrados beijos entre homens, adoção de crianças por casais gays, racismo e muitas outras questões polêmicas. Uma forma de purgar os pecados da Globo?
E é por abordar temas espinhosos que as novelas da Globo geram reação raivosa dos conservadores. O beijo
das mulheres em Babilônia provocou uma nota de repúdio no Congresso
Nacional propondo boicote à TV e ao patrocinador da novela, a marca Natura.
Deputados do PSDB, DEM e PSC encabeçam o protesto.
O texto do
protesto dos deputados diz haver uma “clara intenção na
novela de confrontar os cristãos”. Protestam também, como diz o deputado João
Campos (PSDB-GO), pelo fato de a Globo usar estrelas de primeira grandeza, como
Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg, como o casal gay da novela.
Fernanda
Montenegro não se abalou nem um pouco com a enxurrada dos
ataques em discursos na Câmara e em mensagens condenando sua atuação em
Babilônia nas redes sociais. “Não pertenço aos exércitos (conservadores) que
estão se formando por aí. É uma caça às bruxas o que estão propondo”, disse.
Mas o
tiroteio dos “exércitos” conservadores, como diz Fernanda
Montenegro, também enfrenta reações contrárias de setores progressistas nas redes sociais.
Na semana passada, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que é
evangélico e comanda iniciativas conservadoras no Congresso, foi vaiado durante evento que participava em São
Paulo. Quase não consegue falar.
Diretores da
novela dizem que parlamentares que se levantam contra a novela
são “congressistas medíocres que nunca fizeram nada para o progresso do país”.
Seja como
for, Babilônia também não vai bem das pernas e tem apresentado, até agora, baixos
índices de audiência. Será que é a trama da novela que é ruim ou o boicote dos
conservadores está funcionando?
De qualquer jeito, o beijo entre duas atrizes
famosíssimas, cada uma com muitos anos de excelente trabalho no teatro, cinema e TV, mexeu com a cabeça de muita gente. Tanto aquelas que estão do lado dos que são contra o relacionamento de
duas mulheres ou daqueles que apoiam o comportamento das duas e gostaram do beijo entre elas – ou de qualquer
situação semelhante.
Afinal,
existem milhares de casos como estes no Brasil, seja entre
duas mulheres ou entre dois homens. E não há nada de mal em mostrar isso na TV.
Nos links
abaixo, repercussões sobre o beijo das duas mulheres em Babilônia,
incluindo o caso do jovem que foi espancado e morto por colegas pelo fato de
ser criado por um casal de gays.